POVOS INDÍGENAS: Conheça a Etnia Fulni-ô
 

Etnia Fulni-ô


A etnia Fulni-ô é do nordeste do brasileiro, um povo cujo território abrangeu boa parte do Nordeste do Brasil. A atual estrutura social Fulni-ô é a reunião de cinco outras aldeias: Fola, Foklasa, Tapuya, Brobradaz e Carnijó, todas falantes de sua língua nativa Yaathê. A origem do nome Fulni-ô, significa em Yaathê, o povo que habita a beira do Rio Ipanema. Os Fulni-ô são o único grupo do Nordeste que conseguiu manter viva e ativa sua própria língua, assim como seu ritual mais sagrado a que chamam Ouricuri, e que atualmente realizam em grande sigilo.


Atualmente eles têm seu território em Pernambuco, a cerca de 280 quilômetros da capital do estado, habitando sua reserva indígena, onde se encontra a cidade de Águas Belas na parte central da reserva, e seus arredores.  No entanto, desde sua fundação, há mais de duzentos anos, o atual assentamento dos Fulniô esteve ligado à história da cidade de Águas Belas e seus habitantes não indígenas. Ao se extinguirem os aldeamentos, os não indígenas ansiosos por expandir suas possessões empreenderam furiosas investidas contra os nativos Fulni-ô, empurrando-os para a caatinga e tomando seus terrenos cultivados, apropriando-se assim ilegalmente das terras que por direito pertenciam aos indígenas. Entre os anos 1864 e 1870, os Fulni-ô foram obrigados, junto com outros povos nativos de pernambuco, a lutar na guerra do Paraguai, com a promessa de que ganhariam suas próprias terras em troca. Mais tarde, após o fim da guerra, tendo o Brasil vencido, foram dados os direitos às terras indígenas aos Fulni-ô pelo governo provincial, demarcando as terras que estariam sendo “doadas” aos Fulni-ô por cartas régias e alvarás, em troca do “sangue derramado” dos antepassados que lutaram naquela guerra. 

Esta demarcação feita pelo governo provincial em favor dos indígenas, ainda que tenha ajudado a frear os interesses da população não-indígena, não a deteve do todo, pois anos mais tarde novamente os indígenas voltaram a ser pressionados a abandonar as terras que legitimamente lhes pertenciam.

A partir de 1929, os Fulni-ô começaram a arrendar suas terras aos habitantes não-indígenas do Município de Águas Belas. Muitos dos não-indígenas que cultivavam estas terras de maneira irregular, começaram a pagar uma quota anual aos nativos donos dos lotes, mediante um contrato firmado no Posto do SPI; desde então muitos não-indígenas arrendam e cultivam as terras pertencentes aos indígenas.


Hoje, a vida dos Fulni-ô transcorre em três aldeias, uma delas está junto à cidade de Águas Belas. É nesta aldeia que se encontram as instalações do Posto Indígena da Fundação Nacional do Índio (FUNAI); e as outras são os lugares sagrados do ritual, um chamado Ouricuri velho e o outro Ouricuri novo, onde se estabelecem de setembro a outubro dentro da mata. Os preparativos para a mudança para a aldeia do Ouricuri se iniciam nas últimas semanas do mês de agosto. Todos os Fulni-ô que trabalham fora de Águas Belas, como funcionários, professores, policiais, durante a primeira semana do ritual pedem licença para se ausentar do trabalho e se concentrarem no acontecimento do Ouricuri; e os que podem, permanecem sem sair do começo ao fim do ritual.


Todos os Fulni-ô têm como norma a proibição de falar do ritual do Ouricuri. Os anciãos asseguram que aqueles que infringiram esta norma tiveram mortes estranhas, o que serve de advertência eficaz para que o sigilo não seja quebrado.  

O povo Fulni-ô se organiza através de um cacique que faz o papel político e precisa conhecer bem a cultura indígena e a cultura dos não-índios, pois ele é intermediário nessa relação dos índios com os não-índios; e de um Pajé que precisa conhecer bem a cultura indígena, pois ele assume as orientações dos índios nas relações internas, uns com os outros, e na relação da pessoa consigo mesma, para superar doenças físicas e psicológicas, através de remédios de plantas e rituais. Cacique e Pajé, juntos são, portanto, os responsáveis pela coordenação das decisões para o bem do povo. Por isso, os dois precisam estar em constante diálogo para tomarem as melhores decisões para o povo. 

Os indígenas Fulni-ô são muito dedicados à preservação de sua cultura e seu dialeto, por isso consideram indígena Fulni-ô apenas aqueles indígenas que atendem ao ritual Ouricuri desde jovens e que falem a língua Yaathê.

Se tratando de conhecimentos específicos dos indígenas, a fitoterapia é uma das práticas tradicionais em uso muito presente na comunidade, especialmente no período do ritual do Ouricuri, pois evitam sair da aldeia e recorrem aos cuidados tradicionais com a saúde.

Em relação a educação das crianças e jovens Fulni-ô, na escola sua cultura é efetivamente incluída no universo da educação pública; os materiais didáticos específicos são produzidos de acordo com seus saberes e elementos da cultura, tradicionalmente reconhecidos pelo povo, sendo reconhecidos pelo estado de pernambuco como educativos e importantes para a inclusão social. Além disso, a escola é bilíngue, preservando e fortalecendo seu idioma nativo Yaathê. 

Na atualidade, a maioria dos Fulni-ô cultivam suas roças em produções familiares. Geralmente, vendem uma parte da totalidade de sua produção agrícola. Produzem a forragem e o algodão principalmente com a intenção comercializá-los em sua totalidade. Já o feijão, o milho e a mandioca são cultivados tanto para venda como para consumo.

A atividade remunerada na qual a unidade doméstica emprega preferencialmente mão-de-obra feminina é a confecção de artefatos de palma e artesanatos em geral. São os homens os que se ocupam de procurar, cortar e transportar os materiais da serra para a aldeia. Quando uma família carece de homens, então as mulheres se vêem obrigadas a realizar essa extenuante tarefa.

Produtos que se elaboram com maior frequência são feitos da palmeira ouricuri, também conhecida como licuri, usando a palha, sementes e frutos, para produzir desde alimentos, até bolsas, esteiras, escovas, chapéus, abanos, colares, pulseiras e brincos. Alguns desses produtos são decorados com fibras pintadas com tinta; desde seus antepassados eles usam tradicionalmente corantes que eles mesmos fabricam de elementos naturais.

Os Fulni-ô participam em várias atividades fora de sua aldeia, alguns como estudantes, outros como trabalhadores em cargos diversos, outros com a venda de artesanato pelo país, representando sua cultura e espiritualidade tanto em serviços religiosos como em escolas.  Os parentes Fulni-ô são amigos do Empório Muritiba desde o ínicio, sendo parceiros fundamentais para o nossa criação e acesso a variedade de artesanatos, tudo através de uma troca recíproca de amizade duradoura que beneficia ambas as partes. 

Conheça alguns produtos:

CACHIMBO DE JUREMA

COLAR DE SEMENTES

 

 

 

FONTES:


https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Fulni-%C3%B4 


SILVA, Edson - “NÓS VENCEMOS A GUERRA!” HISTÓRIA, MEMÓRIAS E LEITURAS INDÍGENAS DA GUERRA DO PARAGUAI (2007)


DE OLIVEIRA, Jõao Batista - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO – UPE – Campus Garanhuns NÚCLEO DE ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS - NEAB MESTRADO PROFISSIONAL EM CULTURAS AFRICANAS, DA DIÁSPORA, E DOS POVOS INDÍGENAS - PROCADI (2020)

1 comentário

Iglésio silva

Iglésio silva

Edson, querido, fiquei contente em ler seu documentário em relação ao meu povo.
seria interessante, você voltar aqui pra revitalizar essas informações nos dias atuais…
sou professor, leciono na escola local dentro da minha aldeia e o que você diz em seu documento, é de suma importância para o registro de uma história riquíssima do meu povo Fulni-ô.
parabéns…

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